Me perdoem a ausência.
O motivo da ausência existe, mas não quero falar sobre isso.
para compensar deixo um texto que escrevi em meu outro blog, o
Baú do Angelo. O nome do texto é "Normal".
Normal. Por Angelo Dias
Acordou normalmente. Levantou, pegou o relógio, apertou dois botões, e voltou a dormir. Depois de 10 minutos, acordou de vez. Levantou lentamente, esfregou os olhos e pegou sua calça preferida. A preta, daquele tecido estranho, que não era jeans nem sarja. Vestiu a camiseta nova, e o tênis também novo. Queria mostrar para os amigos as novíssimas aquisições. Pegou sua mala, desceu a escada, entrou no carro, pôs a chave no contato e girou. Ligado.
Acelerou para fora do portão, e foi guiando como o normal. Rápido, chegou ao centro de sua cidade e dirigiu em direção à rodovia. Rapidamente estava nela. Acelerava, escutando músicas rápidas demais para as sete horas da manhã. E com elas, ele ia acelerando. O limite da rodovia era 110 km/h, e ele guiava a 140 km/h. Seu carro, nem novo nem velho, voava pela estrada, normalmente, e tremia. Era muito rápido para ele.
Após quarenta e cinco minutos de ultrapassagens e congestionamentos, chegou a sua faculdade. "Grande bosta!" pensava ele. Andou até a entrada e viu os fumantes no portão. Viu uma garota linda com um cigarro na mão, sugando a fumaça como se ela fosse sua razão de vida. Entrou pela porta principal, percebeu a reforma na guarita de informações, e viu um colega tomando um café. "Como uma mulher tão linda pode fumar como ela?" Perguntou. "É só por um cigarro na boca que ela fica feia" afirmou. Sem resposta, avisa o amigo que a aula ia ser ministrada em uma sala diferente, e anda em direção ao elevador.
Como o normal, estava lotado. Viu alunos universitários bonitos, feios, rebeldes e certinhos. Sentiu o elevador subindo lentamente, e lentamente atingindo o terceiro andar. Entrou na sala e pôs sua mala em cima de uma cadeira vazia. Olhou para todos, deu um Bom Dia que ninguém respondeu, e saiu. Após alguns segundos no corredor, um amigo chega, e com ele, certo entusiasmo. Viu que era por causa de seus amigos que continuava ali. Seu curso? Sim, ele importava. No fundo, queria estar fazendo outro curso em outro local, mas aquele servia.
As pessoas foram chegando, e ele foi se sentindo em casa. O amigo recebeu outro amigo, e mais outro. Eram quatro. Um pior que o outro, nos quesitos vida pessoal, vida acadêmica, e visual. Eram quatro estranhos em um mundo de normais. Não percebeu a professora entrando na sala, e continuou conversando. Após um pigarro do mestre, sentou-se, e preparou-se para aquela aula.
Após muitos blábláblás da professora, viu que a aula não iria render tanto quanto queria. Viu sua nota, satisfatória, porém baixa, e assinou o documento. "Nota normal" ele pensou. Conversou com os amigos e resolveu sair mais cedo daquela aula. Foram ao lugar que sempre iam. Era um boteco que tinha o layout de uma padaria. Pediram seus cafés com leite e seus pães na chapa, e comeram, conversando sobre projetos que não iriam se cumprir, promessas que não iriam se tornar realidade, e assuntos normais do cotidiano. Como o esperado, ficaram lá até a próxima aula começar.
E, normalmente, a aula começou. E normalmente, eles assistiram ao mesmo professor. E o mesmo professor, como era de se esperar, falou um monte de coisas que não tinham a ver com a aula, e só após meia hora de falação, entregou as provas. Nota baixa. Mas aceitável. Era a média da sala, uma nota comum, uma nota normal. Ficou de saco cheio e saiu da sala. Foi embora. Pagou o estacionamento, ligou o carro, e dirigiu para sua casa.
Parou no antigo escritório de seu pai, e começou a navegar na internet. Normalmente, ninguém o impediu nem o repreendeu. Viu seu pai chegando, e com um Oi normal, o viu sair. Tinha alguma coisa errada. Hoje tudo estava muito normal, menos ele. Tudo estava normal. Acordou normalmente, dirigiu normalmente, e assistiu às aulas normalmente. Só que algo não estava normal. Com seu computador, resolveu escrever um texto. E, no fim desse texto, percebeu que seu texto não estava excepcional, nem deslumbrante. Estava normal. Estava chato e repetitivo, como o normal.
Resolveu jogar o texto em algum site, pra que algum leitor desocupado o leia, e não o comente. E como era de se esperar, ele cansou daquilo tudo. Casou da normalidade. Queria ir embora para nunca mais voltar. Queria ir embora. Desceu as escadas e foi ao banheiro. Percebeu que nas ultimas semanas, todas as privadas que ele usou estavam vazando. A privada de seu quarto, e a da sala também. A privada do quarto de seu pai, e a privada do escritório. Estanho, não?
Não. Normal. Na vida dele, não havia mais nada estranho. Era tudo normal. "Relaxa", ele dizia. E ele não relaxava. Estava tenso. Sentia saudades da namorada, sentia saudades da vida de antes. Sentia-se acomodado, e sem incentivo. E, normalmente, conseguiu escrever um texto de duas páginas sobre o que sentia.
Estava na hora de parar de sentir-se mal, e começar a fazer algo por isso.
Mas como era normal, ele não fez. Ele quer parar de se desculpar para um editor de texto, mas não consegue. Resolve, subitamente, terminar de escrever. Faz um final normal. Tenta por um fim nos meios. E, infelizmente, não sabe se conseguiu.
E se ele não conseguiu passar sua mensagem, mesmo após quatro mil e duzentos caracteres? Não tem problema. Pra ele, isso tudo é, como sempre, normal.